Paris 2024, parodia afresco de Da Vinci nas Olimpiadas

O afresco de Leonardo da Vinci nas Olimpiadas. O afresco “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci, que foi parodiado na abertura das Olimpiadas em Paris/2024, é uma das obras mais icônicas do Renascimento; tem um significado complexo para os católicos romanos.

A “Última Ceia” é um afresco pintado por Leonardo da Vinci para a Igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália. Presume-se a obra tenha sido iniciada por volta de 1495-96, e foi encomendada como parte de um plano de reformas na igreja, pelo patrono de Leonardo, Ludovico Sforza, o duque de Milão.  

A obra em sua exposição original está na parede da sala de almoço do antigo convento dominicano, ao lado da Igreja de Santa Maria delle Grazie, exatamente no refeitório do convento, e é uma das obras mais famosas e conhecidas do mundo. É um dos bens culturais mais conhecidos e estimados no mundo.

Primeiro quero dizer que no meu ponto de vista não vejo sacralidade na obra para ficar ofendido, pois religião, crenças e artes por mais que se aproximem têm espaços diferenciados para mim.

Como tenho lindo e ouvido muitos pastores, revoltados com a paródia parisiense, resolvi escrever mais esse texto, e espero que seja o último tratando dessa polêmica. Vejamos alguns aspectos

Valorização do Contexto Bíblico. Nós protestantes podemos apreciar a obra que retrata a “última ceia”, mas não acreditamos na fidelidade de Da Vinci ao contexto bíblico, pois não se sabe a posição de assento de Jesus a mesa. O imaginário da obra tenta representar o momento de um evento narrado nos Evangelhos. Nosso foco está no texto bíblico que é central para a teologia protestante, pois enfatizamos a importância das Escrituras e não da obra.

Rejeição do Culto a Imagens. Muitos ramos do protestantismo, especialmente os mais tradicionais, têm uma atitude cautelosa ou até negativa em relação ao uso de imagens religiosas. Eles podem admirar “A Última Ceia” como uma obra de arte e/ou um recurso pedagógico, mas rejeitam qualquer veneração ou adoração associada à pintura. Isso é baseado na interpretação do segundo mandamento, que proíbe a fabricação e adoração de ídolos.

Inspiração Artística. Apesar da cautela em relação ao uso de imagens, muitos protestantes reconhecem e apreciam o valor artístico e histórico da pintura. Ela é vista como uma representação da última refeição de Jesus com seus discípulos e pode até inspirar reflexões sobre a importância da Ceia do Senhor (Eucaristia). Mas não sacralizamos.

Diferenças Litúrgicas. Para os protestantes, a Ceia do Senhor é um sacramento, embora seja interpretado de maneiras diferentes pelas denominações.  Algumas tradições, como o luteranismo e o anglicanismo, mantêm uma visão mais próxima do catolicismo, enquanto outras, para o calvinismo é meio de graça, e o batitismo têm uma visão simbólica.

O afresco de Da Vinci, “A Última Ceia” pode até servir como um ponto de reflexão sobre estas diferenças, mas a banalização da obra, não pode provocar a Guerra do Armagedon.

Em resumo, eu creio que para os protestantes, “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci não passa de um afresco do universo artístico; e não um objeto de adoração, portanto a paródia parisiense atinge muito mais a moral social do que a fé religiosa. Com toda sinceridade, não vi Jesus na figura central da encenação e muito menos o pão e vinho, da trapaceira imagem do pseudo “deus baco”.

Até terminar essa matéria não li nada de repúdio do Vaticano, este sim que devia excomungar os provocadores, se é que tem poder para isso.

Rev. Pinho Borges. Especialista em História da Artes e da Religião.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *