Como a família está cuidando do seu idoso?

Mais um capítulo do livro ENVELHECIMENTO. CUIDADO FAMILIAR. Autoria do Rev. Pingo Borges.

Mesmo com a vigência do Estatuto do Idoso o que se observa é o contínuo desrespeito e violação aos direitos da pessoa idosa pelas três esferas de Governo, pela Sociedade, e pelas famílias.

Em vigor desde 2003, a Lei 10.741/ 2003 não tem sido aplicada plenamente, o que possibilita a não efetivação dos direitos da pessoa idosa. A lei não é perfeita, ainda precisa de ajustes, correções e avanços, mas com o que se tem é possível tratar a pessoa idosa com dignidade e cidadania. Mas como a família está cuidando de seu idoso?

Não se pode negar que há avanços embora o principal deles ainda não seja praticado que é a consciência cidadã para com o processo de envelhecimento.

A falta de consciência cidadã contribui para violência institucional, isto é, a violência praticada pelo Estado seja grande por conta de sua omissão nas políticas públicas para o envelhecimento. Mas é na família que se registra o maior índice de violência contra a pessoa idosa gerando indignidade no final da vida.

Impressiona como o desrespeito se internaliza no ambiente sócio familiar, como por exemplos: o desrespeito aos espaços e oportunidades da pessoa idosa dentro do lar principalmente pelos pré idosos.

O Brasil está envelhecendo de forma meteórica. Hoje os idosos já atingem a marca de 13 % da população, e a previsão é que no ano de 2050, o País atingirá a marca de 30% da população segundo a Organização Mundial de Saúde, e se não houver ampla conscientização dos direitos da pessoa idosa a situação será de quase total abandono dos mesmos.

A situação é preocupante. É preciso que as famílias se conscientizem de sua responsabilidade para com o seu idoso. E comece a colocar em prática coisas simples como acessibilidade, medicação, regularidade alimentar, prioridade no ambiente familiar, pois coisas assim vão resultar na melhoria da qualidade de vida.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o brasileiro tem relativamente boa qualidade de vida até os 65 anos, mas a partir desta idade precisa de certos cuidados, pois é nessa fase da vida que começam a surgirem as dificuldades com a saúde física e mental. 

Outro cuidado que a família deve ter é com a questão financeira. O índice da violência financeira contra a pessoa idosa é muito alto. Muitos familiares cometem abusos financeiros para com os seus idosos ou até são coniventes com a prática. Este tipo de abuso é muito frequente e acontece nas diversas classes sociais, mas estar mais presente nas famílias de menor porte econômico porque muitas vezes é a pessoa idosa que movimenta a economia da família. A prática do apoderamento do Cartão do Benefício Social ou aposentadoria e consequentemente a retenção do valor desse benefício é muito comum.

Registra-se nas narrativas policiais diversos casos  de retenção do cartão de benefício da pessoa idosa por donos de estabelecimentos comerciais ou pequenos supermercados, que para garantir o recebimento das vendas antecipadas se apoderam dos cartões juntamente com a senha. Fornecem as mercadorias e/ou emprestam valores à juros agiotas que são descontados no valor total da conta onde o benefício do idoso é depositado. Isto
é altamente prejudicial à pessoa idosa, pois ela perde totalmente a autonomia
financeira.

A família deve se conscientizar que quando chega ao envelhecimento a pessoa idosa se torna frágil e carente por isso precisa de carinho, atenção familiar. Nesta fase da vida os laços familiares se tornam necessários pois vão influenciar o cotidiano da pessoa idosa e ajudar na qualidade de vida.

A família erra quando só dar a atenção e/ou dispensa cuidado a pessoa idosa quando ela tem vida produtiva; quando chega o momento das necessidades, a pessoa idosa é vista como improdutivo ou até como um “peso social” a ser carregado até a morte pelos outros membros da família.

É comum encontrar pessoa idosa nas ruas buscando o seu próprio provimento, pois a família os deixa sem o devido acompanhamento pois isto é mais cômodo para ela. A violência financeira não é única no ambiente familiar, apesar de ser a mais comum. Existem outras situações, como o abuso psicológico que passa pela bullying, humilhação, maus tratos orais, violência física que marca o corpo por agressões, abandono, além da negligência alimentar, médica e higiênica entre outras.

É incrível como a maioria dos maus tratos que à pessoa idosa acontece no contexto familiar e tem origem nas pessoas que estão próximas como filhos, netos, conjugue e cuidador; razão pela qual a estatística sobre violência a pessoa idosa é apenas uma amostragem.

A pessoa idosa violentada no seio da família não denuncia a falta de cuidados, por vergonha, por medo de macular a “sagrada família” e/ou receio de que a situação seja agravada por ter que continuar no mesmo ambiente onde os maus tratos foram praticados. Apesar de nada justificar os maus tratos à pessoa idosa, pode-se enumerar diversos fatores que influenciam a prática dos mesmos.

Por exemplo, a discriminação social ao idosos não é apenas uma ação dos pré idosos. As pessoas idosas também se auto discriminam através do corte da comunicação, falta de empoderamento e respeito, isto acontece em consequência de uma visão equivocada do processo de envelhecimento, e da desvalorização da maturidade.

A sociedade moderna valoriza as pessoas enquanto elas têm vida produtiva, o que é um erro, pois, isto é, tratá-las como algo descartável depois delas percorrerem um longo caminho na vida. O pensamento social na atualidade contribui de forma negativa para que psicologicamente a pessoa idosa aceite como normal as rotulações, os estigmas que acabam a isolando do convívio social e os maus tratos em muitos casos se tornam atitudes banais e aprazíveis. Mesmo sendo considerado como “improdutivo” para o mercado de trabalho
por conta da idade e da fragilidade a pessoa idosa é capaz de desempenhar várias tarefas. Muitas são responsáveis pelo gerenciamento total ou parcial da família deixando enfraquecida a ‘teoria da improdutividade’ creditada a pessoa idosa. A condição produtiva da pessoa idosa não deve ser motivo para gerar oportunidade de exploração pela família. Como por exemplo. Sair para fazer atividades dos membros da família ou ser usado como doméstica não remunerada por saber lavar, passar, cozinhar, entre outras.

É alarmante o índice de atos de maus tratos que violam os direitos da pessoa idosa no ambiente familiar. Abusos e negligências mancham a “sagrada família” a partir de dificuldades financeiras, redução no espaço físico na moradia que aliados ao pensamento preconceituoso de que o envelhecimento é sinônimo de improdutividade, sem contar que ainda se rotula a pessoa idosa de ultrapassada, inativa, etc.

Os maus tratos têm sido responsáveis pelo extenso número de violação de direitos da pessoa idosa; em determinados casos tem rompido a cultura familiar com a internação em Instituições de Longa Permanência mesmo que contra a vontade da pessoa idosa, levando-o a morte.

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